“Never bet against America”

No passado dia 2 de maio, tivemos o privilégio de assistir a mais uma conferência anual de acionistas da Berkshire Hathaway, empresa cujo acionista maioritário e CEO é Warren Buffet, um dos mais bem sucedidos investidores de todos os tempo e um homens mais ricos do mundo, conhecido como o “Oráculo de Omaha”. Omaha é a mais importante cidade do Estado do Nebraska, no mid-west norte americano e é onde se localiza a sede da Berkshire Hathaway. 

Como não podia deixar de ser, no atual contexto de pandemia, esta foi uma conferência muito menos efusiva e participada do que todas as anteriores, assim na arena onde ainda o ano passado estiveram quarenta mil pessoas a ouvir Buffet e o seu vice Charlie Munger, este ano estiveram apenas 12 pessoas. Talvez afetado por este ambiente mais frio (e também, provavelmente, pela ausência de Munger, o seu braço direito que por norma o acompanha nestes eventos) o tom de voz de Warren Buffet foi também claramente menos eufórico e mais graves. Esta foi a 55ª conferência anual de investidores e em virtude de ter sido a primeira virtual / online foi também a primeira em que foram utilizados “slides” como suporte à apresentação de Buffet. 

O monólogo de Buffet é contudo sempre interessante e iniciou-se com uma bela aula de história dos E.U.A. em que a principal mensagem foi o facto de os E.U.A serem, no contexto da história, um país ainda muito recente, que durante a sua curta existência revelou sempre uma enorme capacidade de resiliência a vários choques, como guerras mundiais, choque petrolíferos e crises financeiras e, por isso, logrou alcançar um crescimento económico de longo prazo extraordinário.

De seguida, apresentou os resultados trimestrais a as últimas decisões de investimento / desinvestimento implementadas no portfólio de participações. Quanto aos resultados do 1º trimestre, acabaram, sem surpresa, por ser muito negativamente afetados pela variação do valor da generalidade das suas posições acionistas e as menos valias (maioritariamente não realizadas / potenciais) atingiram os 50 000 milhões USD, fruto da turbulência que se registou nas bolsas desde finais de fevereiro. No que se refere às movimentações do portfólio, Buffet decidiu revelar o que fez durante o mês de abril, algo não habitual, para transmitir que vendeu todas as posições que detinha em quatro companhias aéreas norte-americanas. A Berkshire era a 31 de dezembro a detentora de 11% do capital da Delta Air Lines, 10% da American Airlines Co., 10% da Southwest Airlines Co. e 9% da United Airlines. Uma das premissas da filosofia value que rege as decisões de investimento de Buffet é que quando se realiza um investimento porque se acredita que um ativo está barato / a desconto face ao seu real valor fundamental e desde que esses fundamentais não se alterem, independentemente das variações nas cotações, o investimento deve ser mantido e o investidor deve ser paciente, pois mais cedo ou mais tarde, o preço refletirá o valor intrínseco do negócio. Pois bem, Buffett considera que essa premissa foi quebrada no negócio da aviação e afirmou: “O negócio da aviação — e posso estar errado e espero estar errado — mudou de uma forma muito importante”, acrescentado: “Não sei se daqui a dois ou três anos tantas pessoas vão voar tantas milhas quantas as que fizeram no ano passado”, acabando por concluir “Estava enganado” (quando decidiu aplicar entre 7 e 8 mil milhões de USD em ações deste setor).

 

Apesar destas vendas parecerem muito elevadas, note-se que a Berkshire tem, mesmo após estas vendas, um portfolio superior a 180 mil milhões em ações de empresas cotadas dos mais diversos setores! Deste valor, quase 70% está concentrado em 5 empresas apenas:  a Apple Inc. com USD 63.8 mM, o Bank of America Corp.  com USD 20.2 mM, a  Coca-Cola com 17.7 mM, a American Express Co com USD 13 mM e a Wells Fargo & Co. com USD 9.9  mM.

Por fim, para além de responder a todas as questões colocadas, Buffet expressou o seu otimismo para o longo prazo. Não nega as incertezas e os novos desafios trazidos pela pandemia para o curto prazo, mas continua a acreditar que o vento favorável que tem atingido os E.U.A (“America Tailwind”), essencialmente desde início do séc. XX, está para durar! “Never bet against America”!