A mais antiga sociedade gestora portuguesa de fundos de pensões, a SGF, foi comprada pela Golden. O presidente, António Nunes da Silva fala do novo posicionamento estratégico.

A Golden Wealth Management (GWM) comprou a SGF – Sociedade Gestora de Fundos de Pensões (SGF). Qual a finalidade desta aquisição?
A GWM adquiriu a maioria do capital social da SGF no início deste ano, consolidando uma relação desenvolvida desde 2016. A principal finalidade consiste em alargar a oferta da GWM em produtos que nos parecem fundamentais para uma adequada gestão dos patrimónios na perspetiva da poupança.

 

O que vai ser a SGF depois desta aquisição, em termos de novo reposicionamento?
Queremos que a SGF seja percebida como uma entidade profissional altamente especializada em poupança, com uma gestão independente e isenta de conflitos de interesses. A SGF ambiciona tornar-se numa referência em soluções de poupança e investimento, adaptadas a todas as necessidades e tipos de clientes. Por isso, procedemos a um rejuvenescimento da imagem da SGF e a uma reformulação do portefólio do seus produtos, sob o novo lema “De poupança sabemos nós”, e, em simultâneo, simplificámos o acesso a estes produtos, através de vários canais disponíveis: pelo online, no site da SGF, pelo contacto telefónico, com uma linha dedicada, ou pelo contacto presencial com algum dos gestores comerciais presentes em todo o território nacional.

 

Se o foco é criar soluções de poupança, gostava de perceber se o target serão os grandes ou os pequenos aforradores?
O foco da SGF é satisfazer as necessidades de qualquer pessoa, singular ou empresa, que procure a melhor solução para poupança. A SGF pretende chegar a entidades coletivas (por exemplo: sociedades comerciais, ordens ou associações profissionais) que constituem o que chamamos de Grupos de Afinidade, isto é, entidades que congregam na sua organização muitas pessoas individuais que podem beneficiar dos produtos de poupança e reforma oferecidos  pela SGF, os quais se integram em políticas de Recursos Humanos Responsabilidade Social. O PPR (plano de poupança e reforma), pelo seu regime legal e fiscal, é o meio em Portugal mais eficiente para satisfazer os investimentos de quem  procura a melhor solução para poupar. Acresce ainda que, no atual contexto de baixas taras de juro, os PPRs são também uma excelente alternativa de investimento face, por  exemplo, aos depósitos a prazo. Acreditamos que os PPRs não têm tido a divulgação que merecem pela generalidade do sistema financeiro e este novo posicionamento da SGF vai combater esta falha que está a penalizar quem quer poupar e rentabilizar as suas poupanças.

 

Vão estar focados nas grandes cidades?
De forma alguma. A SGF está maior e queremos chegar a todos os potenciais interessados em soluções de poupança, independentemente do sítio onde estão. Para isso, a SGF tem opções de acesso que procuram abarcar diversos canais: para quem preferir o online, a SGF disponibiliza o seu site na internet; quem preferir um contacto telefónico, tem à sua disposição uma linha dedicada para esse efeito; por fim, o contacto presencial está sempre disponível mediante a marcação de unta reunião com um gestor comercial, sendo que a nossa rede comercial abrange todo o território nacional.

 

Há disponibilidade financeira da classe média para poupar ou o custo de vida e os baixos salários não permitem?
Ainda há um caminho longo a percorrer quanto à criação de mais riqueza e rendimento disponível dos portugueses. Contudo, consideramos que a taxa de poupança nacional é, ainda assim, muito baixa e esta pode ser aumentada, com alteração de comportamentos e o apoio de incentivos adequados. Da parte da SGF, o que estamos a fazer é chamar a atenção para o imperativo de poupar mais, pois vamos viver cada vez mais tempo e com eventuais reformas menores. E para permitir que qualquer família consiga iniciar a sua poupança a SGF dispõe de soluções sem montantes mínimos de entrada.

 

Quais são as soluções de poupança que vão criar para atrair os aforradores?
Em termos de PPRs, a SGF reformulou a sua oferta, tendo feito a fusão de dois PPRs praticamente idênticos em termos de política de investimento e desenvolveu um PPR que permite o investimento quase integralmente em ações (para os clientes com perfis de risco mais dinâmicos). Nesta fase, a SGF tem 5 soluções de PPR e 4 de fundos de pensões  abertos, para além dos fundos de pensões fechados personalizados para empresas e outras entidades.

 

Qual será a vossa rede de captação de clientes? Será sobretudo online ou haverá uma mistura entre rede física e online?
A SGF estará presente nas maiores redes de corretores de seguros nacionais. Além disso, os canais (online, telefónico, presencial) irão continuar a evoluir em linha com as  necessidades percebidas e perfis dos clientes. Por exemplo, a utilização do online é progressivamente maior à medida que descemos na idade dos clientes, pelo que será natural  que este canal tenha uma tendência de crescimento futuro. Mas iremos manter a política de ir ao encontro do que o cliente precisa, pelo que os vários canais de captação continuarão a co-existir.

 

Qual é atualmente a vossa dimensão em termos de ativos sob gestão e em número de clientes?
Esperamos terminar o ano de 2019 com um volume de ativos sob gestão superior a 80 milhões (crescimento de 15% comparativamente ao ano anterior) representando cerca de
mais de 3.000 clientes.

 

Que objetivos de crescimento têm (metas)?
O objetivo é duplicarmos os valores, quer em número de clientes, quer em ativos sob gestão, num prazo que estimamos de 3 anos.

 

Como é que a GWM consegue competir com as sucursais em Portugal de grandes bancos como o Credit Suisse, com os bancos que estão a entrar como o EFG Bank e com os que através de Madrid acompanham o mercado português como o Julius Baer?
A pergunta é interessante. Repare que está a comparar a Golden Wealth Management com bancos, neste caso estrangeiros. A GWM não é um banco, a sua força é precisamente ser um gestor de patrimónios independente, que privilegia a independência e a ausência de conflitos de interesses, oferecendo um juízo de valor sob as melhores decisões de  investimento unicamente preocupado em satisfazer as necessidades dos clientes. A questão que temos de colocar é: estão a GWM e esses bancos em condições de igualdade quanto a fornecerem aos clientes o mesmo juízo de valor? Cremos que não. Por isso, acreditamos que a GWM continua a ser diferente e esta diferença é valorizada por quem utiliza os nossos serviços, em especial em Portugal, onde ainda persiste a memória do que sucedeu a vários bancos nacionais.

 

A baixa poupança é apontado como um dos problemas económicos do país. Que sugestões daria ao Governo para dinamizar a poupança?
Todos sabemos que é um problema. A baixa taxa de poupança em Portugal poderá explicar-se por dois motivos: pelo nível de desenvolvimento do País e pelo comportamento  individual. Quanto à alteração de comportamento, temos por hábito adiar quando se fala de poupança para o futuro e de pouco refletir sobre o impacto dos valores que iremos  receber na reforma. Esta perspetiva tem de mudar, temos que nos convencer que é fácil poupar, nem que seja um euro por dia, e canalizar essa poupança para um PPR pois na SGF existem PPRs sem montantes mínimos de subscrição. Pensamos também que o nível de desenvolvimento de Portugal deve integrar medidas de apoio ao aumento da taxa de poupança. Aqui, o Governo, independentemente da tendência partidária, pode e dever ter um papel importante. Seguramente há várias medidas possíveis, mas julgamos que uma área significativa incide no regime fiscal, no sentido de melhorar a atratividade na constituição e reforço das poupanças individuais, de famílias e de entidades coletivas. O regime atual tem-se mantido relativamente igual nos últimos anos, pelo que nos parece evidente que se justifica o seu melhoramento.

 

A baixa dinâmica do mercado de capitais português é um entrave?
Seria bom que a Bolsa de Lisboa fosse mais líquida, mas a verdade é que a sua dimensão não afeta a gestão realizada pela SGF para os seus PPRs e Fundos de Pensões, pois os  instrumentos financeiros a que recorre estão disponíveis nos principais mercados internacionais, pois o verdadeiro mercado de capitais é global.