O CEO da Golden Wealth Management, António Nunes da Silva, defende em entrevista que novos intervenientes podem captar fortunas particulares para gerir no mercado português.

in Jornal Económico

A Golden Wealth Management (GWM) está a comemorar 20 anos e o presidente executivo da gestora de ativos, António Nunes da Silva, refere em entrevista que, apesar das contas finais de 2019 ainda não estarem formalmente encerradas, as sociedades Golden Assets e Golden Broker "irão apresentar excelentes resultados, fruto do bom desempenho evidenciado ao longo de todo o ano, em que conseguimos um aumento do asset under management [ativos sob gestão] no segmento de clientes particulares (pela captação de novos clientes e reforço da carteira de clientes atuais), e em que conseguimos entregar aos nossos clientes rentabilidades muito positivas em todos os perfis de risco".

O CEO diz ainda que "a Golden Wealth Management, que engloba as atividades de duas sociedades (Golden Assets, focada na gestão de patrimónios, e Golden Broker especializada na corretagem) terminou o 2019 com um volume global de ativos sob acompanhamento (AuA) de 741 milhões de euros.
"Para a GWM o conceito mais relevante é o de AuA porque engloba o serviço de Advising (consultoria para investimentos), bem como o serviço de gestão de carteiras", explica, destacando "o ADN da empresa como entidade independente".

O mercado português está a ser cobiçado pelas gestoras de fortunas estrangeiras, Julius Baers, EFG International, Itaú. Questionado se há afinal muito dinheiro em Portugale em fortunas particulares para gerir, o gestor explicou que "alguns estudos sugerem que o mercado português conta com mais de 80 mil portugueses com um património financeiro individual superior a um milhão, ou seja, haverá mais de 80 mil milhões de euros detidos por pessoas e entidades que normalmente recorrem a serviços de gestão de patrimónios, de advising e corretagem como os prestados pela GWM. Poderá ser este o valor aproximado das fortunas particulares em Portugal".

Por isso, acrescenta "acreditamos que as iniciativas de bancos estrangeiros indiciam que parte desse valor poderá ser captado por novos intervenientes, aproveitando  essencialmente o facto de os bancos nacionais terem sido obrigados a desinvestir do segmento de private banking e de ainda estarem recentes as lembranças dos colapsos do BES, BPN, BPP e outros. O que podemos constatar é que a GWM continua a crescer em captação de novos clientes, pelo que o tipo de serviços especializados e personalizados que  oferecemos continua a ser procurado, o que inevitavelmente impõe a necessidade de ter equipas no local, aptas a reunir, ouvir e decidir com quem reside em Portugal".

A CMVM prepara-se para subir muito as taxas de supervisão este ano, e António Nunes da Silva admite que a GWM está a par da proposta e a avaliá-la, "para conhecer melhor os seus detalhes".

"Este é um tema em aberto, que necessita da obtenção de mais informação pelo que ainda é prematuro sabermos se e em que medida a nossa estratégia terá de ser reajustada a novos custos regulatórios. Esperamos, naturalmente, que a resposta seja negativa, mas para já temos de aguardar", refere. 

Já à pergunta sobre o impacto da DMIF II na sociedade em termos de custos, Nunes da Silva diz acreditar  que, independentemente dos custos implícitos decorrentes da sua adoção, "teve sempre um efeito positivo, impactando não só a atividade da GWM, mas também a atividade de todas as empresas financeiras, portuguesas e estrangeiras." O efeito global foi positivo para a segurança de quem recorre aos serviços da intermediação financeira, isto é, os clientes e investidores da GWM", disse.

Depois de em 2019 ter comprado a SGF (Sociedade Gestora de Fundos de Pensões), o CEO diz que "de momento, não estamos a prever novas aquisições. "Contudo, a evolução do mercado, em Portugal e no estrangeiro, acompanhada de desenvolvimento acelerado de novas tecnologias, podem vir a apresentar eventuais oportunidades suscetíveis de serem analisadas", diz.

O gestor salienta que a colaboração entre uma das mais antigas gestoras portuguesas de fundos de pensões e a GWM iniciou-se em 2016, e que a decisão de, posteriormente, adquirir a maioria do capital da SGF prendeu-se com a necessidade da GWM em apostar em produtos especialmente vocacionados para a poupança, o que "é uma questão crucial para o país, tendo em conta os baixos índices de poupança dos portugueses".

O CEO da GWM faz ainda uma análise ao mercado de investimento, dizendo que em 2020, "o segmento acionista continua a parecer-nos mais atrativo, em especial quando comparado com as obrigações, que de uma forma geral estão caras. Conforme apresentado no nosso outlook, identificámos várias oportunidades das quais salientamos a banca  europeia, as mineiras relacionadas com metais preciosos e as mineiras relacionadas com metais industriais". Em termos geográficos destaca a Europa, o Japão e os mercados emergentes.

O gestor diz ainda que durante os últimos meses tem vindo a assistir a desenvolvimentos muito positivos em torno de dois temas que têm sido riscos materiais nos mercados,  como a guerra comercial e o Brexit. "Tudo isto é muito positivo e contribui essencialmente para uma diminuição da incerteza, que vinha a condicionar as decisões de investimento dos agentes económicos".
O CEO sublinha que o ciclo eleitoral nos EUA é extremamente importante e, "dentro do que é possível saber hoje, a atual administração só não será reeleita se houver uma  profunda deceção em termos da atividade económica norte-americana".

"O que pode baralhar este cenário é algum tipo de surpresa como temos tido. Refiro-me ao assassinatodo general iraniano Soleimani ou o coronavírus", explica. "Para já, o bull market tem resistido. Com base nos efeitos provocados por surtos epidémicos no passado, os investidores estão a prever um abrandamento da atividade económica material, e não  só na China", conclui.

As sociedades Golden Assets e Golden Broker são dominadas por acionistas particulares — o sócio maioritário, Fernando Pereira, juntamente com Helena Coelho, Vasco Freitas, Alfredo Menezes e o próprio Nunes da Silva. Parte deste grupo pertence ao núcleo fundador da GWM.