O mês de maio arrancou com um desempenho positivo em praticamente todas as classes de ativos, dando seguimento ao impulso observado no final de abril. Este movimento revela um renovado apetite pelo risco, impulsionado sobretudo pelo alívio nas tensões comerciais que, nas semanas anteriores, haviam inquietado os investidores.
S&P 500 2025
Atualmente, estamos a assistir a uma recuperação dos mercados financeiros em formato de 'V', um padrão típico após períodos de pessimismo extremo por parte dos investidores. Durante a fase de queda, foi natural sentir a tentação de sair do mercado e vender os ativos. No entanto, aconselhámos os nossos clientes a manterem-se investidos, uma vez que a história demonstra que essa raramente é a melhor decisão. A verdade é que os melhores dias do mercado tendem a seguir-se muito de perto aos piores. Os investidores que mantêm o rumo acabam, geralmente, por obter resultados significativamente melhores a longo prazo. Por outro lado, quem abandona o mercado nas fases mais turbulentas corre o risco de perder precisamente os dias com maior valorização – que são, muitas vezes, os principais responsáveis pelos retornos no longo prazo.
Numa perspetiva histórica, desde 1950 registaram-se 12 bear markets, o que representa uma média de um mercado bear a cada 6 anos. Isto faz sentido do ponto de vista macroeconómico, já que a maioria destes períodos negativos são causados por ou antecipam recessões, seguindo assim o ciclo económico natural.
S&P 500 2020
É interessante notar que os dois últimos episódios negativos aconteceram invulgarmente próximos: em 2020, com uma queda de 35%, e em 2022, com um recuo de 27%. Ambos foram casos particulares, não originados pelo ciclo económico tradicional, mas "induzidos" por fatores externos. O bear market de 2020 foi especialmente abrupto, atingindo o seu ponto mais baixo em apenas 33 dias – uma queda praticamente vertical (parabolic drop).
A história também nos ensina que quanto mais abrupta é a queda, mais forte tende a ser a recuperação – como uma bola de borracha que ressalta com maior força quanto mais violentamente é atirada ao chão. Foi exatamente o que aconteceu em 2020: o mercado caiu abruptamente, mas recuperou com tal velocidade que terminou o ano com ganhos de 18%, registando nesse ano uma subida de 70% desde o ponto mais baixo.
O recente "relief rally" levanta uma questão pertinente: estamos perante um impulso temporário motivado por eventos específicos ou é o sinal de uma viragem mais sustentável?
Embora o mercado tenha reagido como se se tratasse de uma resposta pontual– nomeadamente à trégua na guerra comercial –, a realidade é que as economias continuam a evidenciar uma vulnerabilidade significativa face a choques, muito dependentes de liquidez e com níveis de dívida soberana historicamente elevados. Mesmo com esta recuperação dos mercados financeiros, tudo indica que o ciclo de excecionalismo norte-americano poderá ter chegado a um ponto de esgotamento no curto prazo.
No panorama geral, na nossa opinião, estamos a testemunhar uma verdadeira desagregação, uma transformação estrutural cujo desfecho é quase impossível de antecipar, especialmente quando as mudanças políticas de Washington intensificam uma mudança global já em curso. Por isso, deixamos para trás a extrapolação de velhas tendências e a confiança cega em pressupostos de longo prazo, do antigamente.