Maio foi positivo para quase todas as classes de ativos, com especial destaque para a performance das ações. O mercado continuou a reagir favoravelmente ao adiamento da implementação de taxas alfandegarias, nomeadamente após o encontro entre delegações de topo dos EUA e da China a meio do mês. Trump ameaçou, posteriormente, impor tarifas de 50% sobre os bens provenientes da União Europeia, que foram também adiadas.
A Reserva Federal dos EUA manteve as taxas de juro de referência inalteradas, com Jerome Powell a mostrar pouca urgência em cortar os juros e a avisar acerca da possibilidade de a inflação subir e a economia desacelerar. O Banco de Inglaterra e o Banco Central da Polónia cortaram as taxas diretoras, o que era esperado. A China fez o mesmo, tendo anunciado uma série de medidas de estímulo monetário. Vários membros do BCE deram a entender que haverá um novo corte de taxas na próxima reunião, a 5 de junho.
As atenções dos mercados têm vindo a virar-se para a sustentabilidade da dívida pública dos EUA. Donald Trump aprovou um projeto fiscal, mas o mercado tem vindo a considerar que a lei não contribuirá para a melhoria do rácio Dívida/PIB dos EUA. A Moody’s retirou o rating “AAA” à dívida dos EUA, tal como já tinha sido feito pelas agências S&P e Fitch. A bitcoin registou um novo máximo histórico ($111 965) em 22 de maio.
O BCE alertou para “mudanças atípicas”, com investidores a afastarem-se do dólar e da dívida dos EUA, sinalizando uma possível alteração dos fluxos de capitais a nível global. O Eur/Usd esteve sem definir tendência.
Detalhe por classes de ativos:
Após os fortes alargamentos registados em março e abril, maio marcou a maior compressão mensal dos prémios de risco corporativos deste ano. Os spreads das obrigações de maior qualidade estreitaram mais de 11 pontos base (pb), enquanto o segmento de high yield registou uma redução expressiva de cerca de 53 pb. A evolução da guerra comercial continuou a influenciar a dinâmica dos mercados, com os sucessivos avanços e recuos a constituírem uma fonte constante de volatilidade. Observou-se uma recuperação da confiança dos investidores, que permitiu um bom desempenho mensal do mercado obrigacionista, especialmente nas emissões com menor qualidade creditícia. A dívida emergente — anteriormente penalizada pela introdução de tarifas e pela volatilidade inicial associada às tensões comerciais — manteve a trajetória de recuperação destacando-se como um dos melhores segmentos em termos de performance no mês.
Maio caracterizou-se por valorizações expressivas nos mercados acionistas globais, com os principais índices a recuperarem momentum e a consolidarem ganhos num ambiente de menor aversão ao risco. Os principais destaques foram os mercados norte-americanos e os emergentes, impulsionados pelo desanuviar da “guerra comercial”, com os sinais de retoma no diálogo com a China a animarem o sentimento dos investidores. O novo driver dos mercados parece ser o regresso do foco ao expansionismo fiscal, onde Trump volta a ser protagonista com a sua “Big Beautiful Bill,” relançando expectativas de estímulos orçamentais e apoio à atividade económica. Em termos setoriais, a liderança voltou a ser das grandes tecnológicas norte-americanas, puxadas por resultados robustos em semicondutores e IA, mas também a vários subsetores cíclicos relacionados com recursos naturais, alargando a amplitude do rally.
Nas commodities, o petróleo recuperou de mínimos, suportado por receios de disrupções no Irão, mas pressionado pela possibilidade de a OPEP+ anunciar um novo aumento de produção. O cobre subiu cerca de 5%, com os EUA a continuarem a captar muito stock com receio de imposição de tarifas no metal, levando a reduções significativas nos stocks noutras regiões. O gás natural recuperou cerca de 5% nos EUA, suportado por uma descida na produção. O ouro fechou perto dos níveis do final de abril, apesar de alguma volatilidade, com os operadores a aguardarem desenvolvimentos macroeconómicos e geopolíticos. As commodities agrícolas recuaram mais de 3%, com condições meteorológicas favoráveis para cereais e oleaginosas nos principais países produtores, incluindo EUA.
Apesar de ter registado alguma volatilidade em maio, o Euro/Dólar acabou por fechar o mês em níveis muito semelhantes aos que se verificavam no final de abril. Durante a primeira metade do mês, o desanuviar das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China permitiram ao dólar recuperar face às divisas que tinham servido como refúgio, nomeadamente o euro, iene e franco suíço.
O facto de a Moody’s ter retirado o rating “AAA” aos EUA e a perceção negativa sobre a política fiscal de Donald Trump fizeram com que o dólar cedesse os ganhos entretanto acumulados. A libra teve um mês de valorização praticamente contínua em relação ao euro. A moeda reagiu em alta ao corte de taxas de juro devido à divisão entre os membros do Banco de Inglaterra e beneficiou de dados económicos melhores do que o esperado. O Eur/Gbp chegou a cotar a £0,8354, o que não acontecia há oito semanas. O yuan chinês ganhou terreno face ao dólar, prolongando a tendência das últimas semanas. O Usd/Cny atingiu mínimos de mais de seis meses, sem grande oposição das autoridades monetárias da China.
Conclusão
Maio revelou-se um mês positivo para os mercados financeiros, marcado por uma recuperação generalizada dos ativos de risco. A trégua nas tensões comerciais entre os EUA e a China, aliada a sinais de estímulos monetários e fiscais em várias economias, contribuiu para reforçar o apetite dos investidores. Apesar das incertezas geopolíticas e fiscais nos EUA, os mercados mantiveram uma trajetória favorável, refletindo um ambiente de menor aversão ao risco e expectativas renovadas de apoio à economia global.