O Japão é a terceira maior economia mundial estando muito exposta à situação económica internacional por ser uma economia fortemente aberta ao exterior e, como tal, os seus ciclos económicos e políticos merecem sempre a nossa análise atenta.

Nos últimos anos a economia japonesa experimentou períodos consecutivos de recessão alternados com curtos períodos de (fraca) expansão e a crise económica mundial provocada pela pandemia da COVID-19 teve um impacto significativo, com o PIB a recuar 5,3% em 2020. Já em 2021, os japoneses viram também ruir todas as expectativas quanto ao impacto esperado no relançamento da economia derivado da organização dos Jogos Olímpicos, uma vez que não foi permitida a entrada de turistas no país e mesmo o público doméstico não teve a possibilidade de assistir à generalidade dos eventos.

Ou seja... após aproximadamente 15 anos de governação de Shinzō Abe (que abandonou em agosto do ano passado a liderança do país devido a alegados motivos de saúde), período esse designado por  “Abenomics” e caracterizado por políticas monetárias e fiscais extremamente expansionistas, tivemos no último ano o Japão a ser liderado pelo seu ex-braço direito Yoshihide Suga.

Corridos 12 meses o índice de popularidade do atual primeiro-ministro encontra-se em mínimos históricos num país ainda muito assolado pela pandemia e em que tanto a organização dos jogos olímpicos como o plano de vacinação traçado, foram extremamente criticados. Toda esta tensão levou Yoshihide Suga a anunciar que não vai participar nas próximas eleições (marcadas para o fim de novembro). Como reagiram os mercados financeiros japoneses a esta declaração?

A resposta é: muito bem.

 

 

 

Toda a turbulência foi vista como positiva pelos acionistas que consideram que o atual primeiro-ministro deve ser afastado. Toda a expectativa em torno de um novo governo forte e de renovada estabilidade política levou o TOPIX (o mais representativo índice japonês) a fazer um catch up aproximando-se, em termos de desempenho acumulado desde o início do ano, dos índices de referência como o S&P500 (linha azul) e o Euro Stoxx (linha vermelha). O Topix está agora em máximos de 30 anos!

Resta agora saber quem vai ser o próximo político a encabeçar a lista apresentada pelo LDP (Liberal Democratic Party), atual partido com maioria governamental e crónico favorito desde a sua criação. Os dois principais candidatos são Taro Kono (que lidera agora o processo de vacinação) e o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Fumio Kishida. Ambos são vistos como candidatos pró-mercado e com capacidade reformista, mas o preferido tem sido Kono uma vez que Kishida defendeu, no passado, a necessidade de o Japão ter contas públicas mais equilibradas (o que implicaria ou um agravamento de impostos ou cortes de despesa pública). Outra possibilidade seria a ex-ministra da Administração Interna Sanae Takaichi que, segundo a imprensa local, poderá beneficiar do apoio do ex-PM Shinzo Abe.

Mas, em resumo, o mercado aplaudiu a saída de Suga uma vez que o seu afastamento e substituição por uma nova figura aumenta a possibilidade de o LDP (partido com posições históricas pró-mercado) se manter no poder após as eleições de novembro para a Câmara Baixa do Parlamento.