Numa altura em que a inflação anda na boca de meio mundo, com alguns dos bancos centrais a aumentarem as suas taxas de juro, e outros a preparem-se para o fazer em 2022 com o objetivo de a controlar, soubemos nesta segunda-feira que a China cortou a sua taxa de referência a um ano em 10 pontos base.

 

 

Adicionalmente, o Banco Central procedeu a um incremento líquido nas operações de cedência de liquidez (“Medium-term Lending Facility”) ao sistema financeiro em mais 200 mil milhões de yuans. E, já esta quinta-feira, a China reduziu as taxas de referência de empréstimos hipotecários (o primeiro corte desde abril 2020, de 10 bp na taxa a um ano para 3.70% e 5 bp na taxa a 5 anos para 4.60%).

Fontes oficiais chinesas justificam estas descidas das taxas de juro com preocupações relacionadas com o seu crescimento económico, prevendo ainda que possam acontecer mais descidas durante o ano, e em particular, no primeiro semestre de 2022.

Os dados económicos não foram péssimos, mas as autoridades chinesas querem assegurar que as taxas de juro não prejudicam o crescimento da sua economia para os próximos tempos. O seu PIB registou um crescimento de 5,2% no último trimestre, face aos 4,9% do 3º trimestre. As exportações, que têm sido um importante catalisador do seu crescimento, registaram uma subida de 18,1% em dezembro, um valor impressionante, embora menor do que os 21,5% em novembro. A produção automóvel e do aço também registaram aumentos relevantes para os seus sectores e mesmo a venda de imóveis cresceu para 3% em dezembro, face aos 1,8% registados em novembro. Este setor imobiliário tem tido, desde 2021, uma série de graves problemas e, ao que parece, ainda não está estabilizado, tornando-se uma ameaça à economia chinesa em 2022. Registou-se ainda uma quebra nas vendas a retalho em dezembro de 3,1% face aos 4,4% em novembro, fruto de restrições e confinamentos impostos em algumas regiões daquele país, provocando também uma redução no indicador do consumo das famílias de 6,3% no 3º trimestre para 5,8% no último trimestre de 2021. Houve ainda um aumento do número de desempregados que se cifrou nos 5,1% em dezembro vs. 4,9% em outubro passado.

O mercado já assumiu que há abrandamento da economia chinesa e neste momento está concentrado em perceber se haverá em 2022 sinais de melhorias dos indicadores económicos. Esperam-se novas reformas, medidas governamentais e outros estímulos para ajudar sectores como a tecnologia, infraestruturas, educação e o consumo interno, tendo em conta que o país continuará a ter muitas restrições no acesso às suas fronteiras, como consequência do controle da pandemia e das variantes que, entretanto, surgiram. Está assumido que a descida das taxas de juro será um dos mecanismos a utilizar na primeira metade do ano para estabilizar o seu crescimento económico. O curioso deste facto é que a grande maioria dos países ocidentais estão a fazer exatamente o contrário.

Estaremos a presenciar uma oportunidade ou uma ameaça ao crescimento económico global, tendo em conta o seu peso na economia mundial?