Como devemos interpretar a performance tendo por base uma concentração extrema num número muito reduzido de cotadas?

 

O contexto da pandemia do Covid-19 e as suas ondas de choque ditou uma mudança de paradigma no modo de funcionamento de muitas empresas e indústrias.  Tal veio também acentuar uma tendência que já se verifica há alguns anos: a concentração do valor de mercado e do desempenho nos principais índices acionistas num reduzido número de cotadas e, um agravamento da disparidade de retornos, principalmente entre as empresas do setor tecnológico e as empresas da designada “velha” economia!

O Standard & Poor's 500, ou simplesmente S&P 500, é um índice que agrega as cerca de 500 maiores cotadas dos EUA, sendo cada empresa ponderada no índice de acordo com o seu market cap. O índice é responsável por 80% do valor bolsista dos EUA e é frequentemente usado como proxy para este mercado (que por sua vez é o maior em termos mundiais ). O S&P500 é por isso muito usado como "índice padrão" para estudos e análises dos mercados acionistas.

Analisando então a performance deste índice neste ano de 2020, verifica-se que existe uma diferença sem precedentes na performance (e na evolução dos respetivos múltiplos ou seja rácios, como o rácio Price-to-Earnings – P/E,  Price-to-Sales Ratio – P/S,  Price to Free Cash Flow, P/FCF e Price-To-Book Ratio- P/B)) entre as 10 maiores empresas do S&P500 e todas as outras (mas particularmente em relação às empresas com menor capitalização dentro do índice).  Como podemos observar na tabela abaixo, as 10 maiores empresas em nível de capitalização bolsista apresentam um retorno desde início do ano (YTD) de cerca de +9.6%, quando as 50 empresas de menor dimensão registam no mesmo período uma perda de -38.5% (dados a 3 de julho)!

 

 

 

As designadas FAANG (Facebook, Amazon, Apple e Netflix, Google) lideram este movimento e representam sozinhas mais de 80% dos ganhos do S&P500 desde o início do ano, exibindo um comportamento excecional que as torna claramente outperformers face aos seus pares e assumindo um peso relevante no índice. Também em consequência destas performances, o índice S&P500 está agora mais concentrado do que nunca na sua história, com o peso das 5 principais cotadas (Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet e Facebook) a atingir quase os 22%!

 

Nunca, em termos históricos, uma estratégia “equal weighted” com todas ações do S&P500 ficou tão atrás do índice oficial como ocorreu nos últimos trimestres  nem mesmo durante a chamada bolha das dot-com!

Mas qual a implicação desta situação para os investidores?

A pergunta que muitos investidores fazem é: dada a aceleração dos eventos de rutura tecnológica e o contexto de negócios mais favorável para este segmento, devemos continuar a apostar nestes campeões de performance? A curto prazo, não temos claramente uma resposta… mas é nossa convicção que estes níveis extremos não são suportáveis a médio prazo e que setores que hoje são menos populares e menos ganhadores (ou mesmo perdedores) no mercado, irão começar a captar mais interesse da parte dos investidores mais astutos. Mais, acreditamos que no atual contexto de mercado os investidores estão potencialmente mais expostos a “armadilhas” de valorização em empresas ditas “growth” (de crescimento) do que em empresas “value” / defensivas. Note-se ainda que esta concentração extrema do valor de mercado e performance não é exclusiva do mercado dos EUA! É um padrão replicado amplamente em todas as principais praças financeiras!

Not if, but when!

Em suma, acreditamos que “em breve” assistiremos a uma reversão importante no comportamento relativo destas ações… faltando apenas saber quando essa reversão ocorrerá!