O início do processo de vacinação nas principais economias mundiais no início deste ano trouxe consigo uma forte expectativa no combate à pandemia do Covid-19. Contudo, o aumento do número de infetados nas últimas semanas, com países já na terceira ou até quarta vaga, têm levantado dúvidas sobre a eficácia das vacinas que têm sido administradas à população.

Em primeiro lugar, importa perceber como funciona uma vacina. A vacina estimula uma resposta do sistema imunitário do individuo e cria no corpo uma “memória” de uma doença específica, neste caso do Coronavírus, sem causar essa doença! Como tal, aquando da toma de uma das vacinas disponíveis (BioNTech/Pfizer, Johnson & Johnson, Moderna ou AstraZeneca) é normal apresentar alguns sintomas ligeiros, o que sinaliza que o corpo está a responder à presença de agente estranho. Desta forma, o corpo fica “treinado” para combater o vírus, numa eventual exposição futura!

Assim, a importante conclusão a retirar é que a vacina não elimina o risco de contrair Covid-19, mas evita a doença grave (ou, no limite, a morte)! Ou seja, um individuo totalmente vacinado pode testar positivo para a Covid-19, contudo, as probabilidades de uma infeção grave reduzem drasticamente. A eficácia da vacina varia de acordo com o perfil de risco do individuo, todavia, de acordo com uma análise do Financial Times, os benefícios são evidentes. Por exemplo, o risco de mortalidade por infeção de Covid-19 de uma pessoa de 80 anos com a vacinação completa é igual ao risco de mortalidade uma pessoa de 50 anos sem vacina.

 

É assim totalmente expectável que pessoas totalmente vacinadas possam contrair Covid-19 e testar positivo, ou seja, é expectável que à medida que o desconfinamento avançar e toda a população seja exposta ao vírus, venha a verificar-se um aumento do número de infetados. A gravidade da infeção é que será certamente diferente de uma pessoa vacinada ou não. A vacinação tem assim uma função preventiva, não a curando. Assim, além de trazer benefícios a nível individual, a vacinação de uma elevada percentagem da população (taxa de cobertura vacinal elevada) dá origem à tão falada imunidade de grupo, responsável, em parte, pelo controlo do vírus. Apesar de inicialmente se falar na fasquia dos 70% da população vacinada, o aparecimento de várias variantes tem dificultado (e aumentado) a percentagem de população vacinada necessária para atingir a tão desejada imunidade de grupo. Isto reforça a importância de vacinar o maior número de pessoas da forma mais célere possível.

Nenhuma vacina, independentemente da doença, é 100% eficaz. Mas importa referir que, os ensaios clínicos que suportaram a autorização de introdução destas vacinas no mercado envolveram milhares de pessoas e demonstraram que estas vacinas são eficazes na prevenção de Covid-19. Por isso, a vacinação vai desempenhar um papel central na preservação de vidas humanas e no controlo da pandemia.

Exemplo disto é Inglaterra. Este foi o primeiro país a iniciar o processo de vacinação e os resultados positivos da vacinação contra infeções graves são claros. Os dados apresentados pelo Financial Times mostram que o número de admissões em hospitais por Covid-19 atualmente (sendo que o Reino Unido já tem cerca de 56% da população totalmente vacinada) é claramente inferior face ao número que seria esperado caso não houvesse vacinação.

 

 

Ou seja, mesmo com a esmagadora maioria da população vacinada continuaremos a ter algumas hospitalizações (e até mesmo mortes) uma vez que nenhuma vacina é 100% eficaz. Contudo, a vacinação permitirá manter esses números incomparavelmente mais baixos ao que seriam num cenário de não existência de vacinas o que evitará o colapso dos sistemas de saúde.

 

 

Em suma, o Covid-19 não irá desaparecer, sendo o destino mais provável deste vírus tornar-se endémico, ou seja, irá sempre existir, em tudo semelhante à gripe, apesar que com um nível muito baixo de ameaça, num contexto de vacinação alargada a nível mundial. Esta premissa confirma a ideia de que efetivamente as vacinas estão a funcionar e reforça a importância da vacinação!