Os investidores são bombardeados com a informação que os mercados a longo prazo só sabem subir, por exemplo, o índice de Dow Jones, que é um dos principais índices acionistas do mundo, nos últimos 100 anos tem valorizado cerca de 10%/ano (valor anualizado).

 

A afirmação que os mercados tendem a valorizar é verdadeira? Como é possível as ações valorizarem 10% ano?

 

Parte significativa da resposta à nossa pergunta, é respondida com o crescimento económico, em termos reais (aumento da produção de bens e serviços) e em termos nominais (aumento dos preços).

 

Se o crescimento económico é o pilar das rentabilidades futuras dos nossos investimentos é importante perceber o que origina este crescimento.

 

Então de onde vem o crescimento económico?

 

O crescimento económico deriva sempre dos fatores de produção, esses fatores são o Capital e o Trabalho. Para termos crescimento económico temos que ter um aumento destes fatores ou um aumento da sua produtividade (normalmente o aumento da produtividade está associada a avanços tecnológicos).

 

• Aumento da Produtividade

 

O aumento da produtividade é medido como o que um trabalhador produz a mais no mesmo espaço de tempo. A produtividade tende a ser maior nos países onde o capital é mais abundante e menor nos países onde este é escasso. Uma maior produtividade é normalmente obtida através do incremento tecnológico do processo produtivo, mas também através de medidas ao nível da organização e aumento da eficiência.

 

• Aumento do Capital

 

O Capital é qualquer bem económico que pode ser utilizado na produção de outros bens ou serviços. O Capital é visto como um stock, pelo que, quando uma economia investe acima do valor da depreciação desse stock está a aumentar o Capital e de promover o crescimento económico.

 

• Aumento da Força de Trabalho

 

A força de trabalho é o número de pessoas com capacidade para participar no mercado de trabalho. Pelo que, o aumento da força de trabalho está (muito) correlacionado com a taxa de natalidade de cada país.

 

Diferentes taxas de natalidade:

 

A origem do crescimento económico e a mudança de paradigma

 

O crescimento da população é muito importante e é esquecida por muitos dos analistas quando estes analisam e comparam diferentes economias. Um caso concreto da importância deste fator de produção é o caso da economia do Japão, nos últimos anos tem sido constante a referência que a economia do Japão está estagnada, a expressão “japonização da economia” é usada com para caraterizar uma economia doente. Longes vão os tempos do milagre económico japonês, um período que permitiu a Japão, um país destruído pela Segunda Guerra Mundial, tornar- se na segunda maior economia do mundo em cerca de 20 anos.

 

Será real o mau desempenho económico do Japão? Se sim, a que se deve?

 

Evolução do PIB:

 

A origem do crescimento económico e a mudança de paradigma

 

No gráfico é possível constatar que a economia japonesa, em termos relativos, tem tido ficado para trás, principalmente face aos EUA e à China. A que é que se deve este comportamento? Como já referido o crescimento económico está indexado ao crescimento da produtividade e ao crescimento da força de trabalho.

 

Evolução do PIB per capita:

 

A origem do crescimento económico e a mudança de paradigma

 

O PIB per capita permite analisar a riqueza por habitante de cada país. O curioso é que quando analisamos a evolução do PIB per capita (por pessoa), detetamos que a economia japonesa tem tido um desempenho semelhante às outras economias mais desenvolvidas (com a exceção da China, que ainda não é um país desenvolvido), surpreendentemente a economia japonesa até tem apresentado um desempenho superior à economia francesa (em termos per capita).

 

O grande mal da economia japonesa é a sua demografia, que tem impactado o crescimento da força de trabalho e da sua economia. Será uma ilusão achar que as baixas taxas de natalidade que se tem verificado em diversos países desenvolvidos, nomeadamente em Portugal, não terá efeito no crescimento económico.

 

Uma conclusão a retirar, e que está ligada à performance futuras dos mercados acionistas é que muito provavelmente, com a queda da taxa de natalidade no mundo, a performance futura das ações deverá ser inferior ao que era normal até agora. Porque em última análise, a valorização desta classe está ligada à performance da economia global.

 

Nota: O decréscimo da natalidade apesar de ter um impacto potencial negativo na rentabilidade das ações, não é por si uma coisa má, como verificamos no gráfico anterior, os japoneses continuam ano após ano a viver melhor (o PIB per capita está a acrescer) sendo que uma redução da taxa de natalidade dá um contributo muito positivo para a sustentabilidade do nosso planeta.