Ontem Jerome Powell, presidente da Reserva Federal norte americana (Fed), referiu que as taxas de juro nos EUA poderão estar próximas de “níveis de neutralidade”.

 

As taxas de juro do USD permanecem extremamente baixas e mesmo após 8 subidas de 25pb cada, a taxa dos Effecttive Fed Funds[1] está em mínimos desde abril de 2008. Quando a comparamos com a inflação core[2] (Effective Fed Funds – Core CPI YoY) e aí constatamos que em termos reais os Fed Funds estão pela primeira vez em 124 meses em terreno positivo.

 

Só agora - e após a fase atual de expansão económica levar mais de 9 anos de duração – é que a Fed entra em modo de neutralidade em termos de Política Monetária.

 

Trata-se de um sinal importante ao qual os mercados devem prestar atenção.

 

 

Vamos colocar tudo isto em contexto e comparar o ciclo atual com outros semelhantes em que os Fed Funds estiveram negativos – outras fases de dinheiro barato.

 

Historicamente, o atual ciclo de Fed Funds Reais negativos que dura há mais de 10 anos (123 meses compreendidos entre maio de 2008 a agosto de 2018) é de longe o mais longo que há registo. O recorde anterior de 39 meses entre outubro de 2001 e dezembro de 2004 foi apontado como o causador da bolha imobiliária (a Fed cortou taxas para níveis demasiado baixos e manteve-os lá durante demasiado tempo).

 

 

 

Olhando para os futuros das taxas de juro do eurodólar (proxy dos fed funds) e para o spread entre dezembro 18 e dezembro 20, até ao verão a Fed tinha convencido o mercado que iria manter-se fiel às subidas graduais e consistentes de taxas de juro durante o próximo ano, mas, entretanto, algo mudou…

 

 

 

 

Perspetivas de inflação futura a baixarem (preços petróleo em forte correção), mercados acionistas a corrigirem, ambiente de hostilidade comercial e crescimento global pouco sincronizado serão as principais preocupações de J. Powell que o levam a equacionar um eventual abrandamento do processo de normalização da política monetária.

 

A subida de 25pb na próxima reunião de dezembro[3] é tida como certa (e já descontada pelos mercados), mas a porta está agora aberta para uma pausa no ciclo da subida durante 2019.

 

 

[1] Taxa de referência da Fed

[2] A inflação core exclui preços da energia, alimentação e tabaco e é a referência utilizada pela generalidade dos Bancos Centrais

[3] 19 de dezembro 2018