Na passada sexta-feira, 13 de junho, Israel lançou a Operação "Despertar do Leão", uma ofensiva aérea de grande envergadura que mobilizou cerca de 200 aeronaves contra aproximadamente 100 alvos em território iraniano. Desde então, entre as partes têm-se assistido a um ciclo de ataques e contra-ataques que já resultaram em mortes e danos em infraestruturas e civis, elevando significativamente as tensões no Médio Oriente.
Este avanço militar surge numa semana em que o governo de Benjamin Netanyahu se encontra fragilizado, depois de sobreviver por pouco a uma tentativa de dissolução do parlamento e duas semanas depois de fontes iranianas alegarem ter obtido milhares de documentos confidenciais sobre o programa nuclear israelita, retirados do próprio território de Israel.
O Epicentro Energético Mundial
A escalada das tensões entre Israel e o Irão coloca em destaque uma das regiões mais estratégicas do globo: o Irão e o Iraque (proxy de Teerão) são membros-chave da OPEC+, mas é a localização geográfica do Irão que confere a este conflito uma dimensão sistémica para os mercados energéticos mundiais.
O Golfo Pérsico (ou Arábico) tem a sua costa norte integralmente delimitada pelo Irão, de “jusante a montante”, e representa uma das artérias marítimas mais críticas do planeta, sendo responsável pelo transporte de aproximadamente 20% do petróleo comercializado por via marítima. O Estreito de Ormuz, constitui o único corredor marítimo que liga este “mar interior” ao Golfo de Omã e depois o Mar Arábico ao Oceano Índico. É, portanto, um ponto estratégico fulcral, onde o Irão mantém diversas bases militares e navais.
A utilização de rotas marítimas como instrumento de pressão em contextos de conflito não é novidade, na região. Desde o início da guerra em Gaza, os rebeldes Houthi do Iémen têm conduzido ataques contra embarcações na região do estreito de Bab al-Mandeb, porta de entrada para o Mar Vermelho. Contudo, enquanto o bloqueio dos Houthis pode ser contornado através da rota alternativa pelo Cabo da Boa Esperança em África – mais longa, mas segura – não existe qualquer alternativa viável para o transporte marítimo na saída do Golfo Pérsico.
O encerramento do Estreito de Ormuz representaria o maior risco económico-financeiro deste conflito, sendo que esse é um cenário que monitorizamos de perto. Tal desenvolvimento teria impacto direto nas economias mundiais e poderia desencadear uma resposta militar, principalmente dos Estados Unidos.
Reação dos Mercados
O efeito imediato da escalada traduziu-se num aumento acentuado do preço do petróleo, que disparou mais de 10% e atingiu os 77 dólares por barril, embora tenha rapidamente recuado nos dias subsequentes, apesar da manutenção das tensões. Historicamente estas subidas do petróleo, impulsionadas por guerras, tendem a ser de curta duração. O dólar americano registou uma valorização, ainda que insuficiente para compensar as pressões cambiais, num movimento relativamente tímido. Observou-se, também, um movimento significativo nos metais preciosos, com o ouro a registar uma subida superior a 3%, que, entretanto, também sofreu uma retração.
O ambiente de mercado mantém-se surpreendentemente robusto, apesar das incertezas.
A questão que se coloca é se este risco de conflito no Médio Oriente, com potencial para uma guerra total, deveria levar os investidores a liquidar posições e refugiar-se em cash ou obrigações do Tesouro. A resposta: Não!
Os investidores que reagem impulsivamente a desenvolvimentos geopolíticos tendem a ser penalizados ao longo de horizontes de investimento que realmente importam.
Em 2025, os investidores estão a ser recompensados por manter posições agressivas, na medida em que se pressupõe que as autoridades monetárias não irão interromper o crescimento real e irão manter as medidas fiscais expansionistas, persistentes e acima da média.
No plano geopolítico, as tensões no Médio Oriente, bem como noutros pontos do globo, embora reforcem o carácter defensivo de alguns sectores, não parecem ter, de momento, impacto significativo sobre o comportamento dos mercados, nomeadamente os mercados acionistas. O que se observa, portanto, é um sentimento e posicionamento de "risk-on", refletindo a confiança dos investidores na capacidade de contenção dos riscos sistémicos e na manutenção das condições favoráveis aos ativos de risco.